quarta-feira, 4 de março de 2009

OS CAMPONESES

Era uma vez, numa zona muito quente, dois camponeses chamados Zé e Carlos que trabalhavam no campo. Trabalhavam muito, todo o dia expostos ao Sol sufocante do Verão.
Na altura da sementeira, plantavam as sementes que tinham, que eram poucas. No mercado, o preço dos grãos tinha vindo a aumentar consideravelmente.
Do pouco que semeavam, os ratos comiam, os pássaros pilhavam, e do pouco que sobrava, os ladrões roubavam uma parte e ainda por cima vinham os cobradores a dizer:
- Dá os grãos!
Enfim, o que sobrava era uma ninharia. Porém, aconteceu que num ano, graças a poupanças de esforço incomensurável, conseguiram comprar materiais que utilizaram para construir um espantalho. Então, semearam e ficaram de guarda em vez de ir fazer trabalhos extra: os ratos pouco comeram, os pássaros pouco pilharam, os ladrões não foram roubar-lhes os grãos, (provavelmente porque estavam a assaltar outra casa), mas os cobradores cobraram-lhes a mesma quantia. Então, conseguiram acumular alguns excedentes.
Acontece que, num dia de grande agitação, o Zé lembra-se de dizer ao Carlos:
- É verdade…estamos na época de venda.
- E então? – Perguntou Carlos.
- Podíamos ir vender os excedentes ao mercado da outra cidade, -admoestou Zé – ouvi dizer que lá o pão e os cereais se vendem depressa.
- Porque não? Podíamos ganhar algum dinheiro indo vender para lá…
- Então, está acordado!
No dia seguinte, puseram-se a caminho da cidade com os seus cereais.
No mercado venderam, como previsto. Mas, avistaram outros dois camponeses que tinham tantos excedentes, que a sua quantia parecia uma gota de água dentro dum barril de dez litros.
Eles perguntaram aos camponeses como tinham tal riqueza, e um dos camponeses respondeu:
- Nós vivemos perto de uma zona muitíssimo fértil, basta atirar umas quantas sementes para a terra ao pé do rio, e nos seguintes dias estão a nascer cereais.
- Se quiserem, venham viver e trabalhar connosco, mas têm de fazer as tarefas mais difíceis. – Disse o outro camponês com um brilho cínico nos olhos.
Eles concordaram em ir, mesmo que fizessem as tarefas mais difíceis, haveriam de lucrar.
Passados uns meses, tinham o que queriam. Bastantes excedentes, e já tinham vendido muito.
Até as tarefas mais “duras” eram as mais leves para Zé e Carlos. Simplesmente, esse modo de vida não tinha desafios. Zé e Carlos atiravam meia dúzia de sementes para a terra e nasciam bastantes cereais.
Antes, tinham de estar a cuidar sempre da terra, afugentar os ratos, os pássaros e até livrarem-se dos ladrões. Agora, nada…
Certo dia, aborrecidos, decidiram fala com os camponeses.
- Desculpem, mas nós vamos voltar para casa – disse Carlos.
- E então porquê? – Perguntou um dos camponeses, com óbvia aflição.
- Este modo de vida não serve para nós. – Retorquiu Carlos. Estamos fartos de fazer trabalhos tão leves. Lavar a loiça, cozinhar, e plantar.
- Mas, assim, quem faz isso? – Perguntou o camponês.
- Vocês! – Disse Zé com fúria que se ameaçava alastrar para o exterior.
Dizendo isto, Carlos e Zé foram-se embora.
Quando estavam na sua humilde casa, Carlos disse a Zé com um sorriso cansado desenhado nos lábios:
- Penso que fizemos o acertado. Mesmo que tenhamos tudo e trabalhemos pouco, não penso que alcançaremos a felicidade.
-Pois…- Disse Zé.
- Prefiro muito mais trabalhar no duro e ter apenas o suficiente para sobreviver do que ter tudo facilmente.
- Concordo plenamente… – retorquiu Zé com uma expressão calma.
Dizendo isto, puseram-se os dois ao trabalho, enquanto contemplavam o crepúsculo vespertino que se desenhava na abóbada celeste.

Rafael Belchior, nº 18, 7º C

Sem comentários: